Manifesto criado por ex-jornalista americana para melhorar o dia a dia das mulheres no local de trabalho, explica o impacto positivo da gestão feminina, inclusive na economia
Foi conversando com um grupo de mais de 150 mulheres sobre o que significa, na prática, uma corporação “feminina”e o que as mulheres mudariam no local de trabalho se pudessem, que Deborah Hargreaves, ex-jornalista veterana do “Financial Times” e do “Guardian”, entendeu o quanto grande parte das empresas atua de maneira incompatível com a vida moderna.
Ao Financial Times, Deborah enfatizou como a experiência da mulher no local de trabalho pode ser bizarra e desconfortável. “Precisamos nos desculpar por cuidar dos nossos filhos e fingir que estamos totalmente engajadas no trabalho 100% do tempo. Certamente deveríamos reconhecer: estamos cuidando de outra geração ou cuidando de pessoas vulneráveis de nossa própria geração?”, disse.
Para se enquadrar nos padrões da empresa, Deborah percebeu que “arranjar desculpas” e mentir sobre consultas médicas para participar de eventos escolares dos filhos, ou acobertar uma doença da criança alegando que a própria está doente, são situações comuns e representam apenas alguns dos truques que as mulheres recorrem para parecerem “profissionais” no local de trabalho, sem abrir mão dos prazeres e desafios que acompanham a maternidade.
O assunto chamou tanto a atenção da ex-jornalista que, depois de passar um ano compilando seus estudos após ganhar uma bolsa da Friends Provident Foudation, Deborah criou o “Women at Work: Designing a Company Fit for the Future” – um manifesto pela mudança com recomendações sobre como uma abordagem à vida profissional, orientada para as mulheres, tem o poder de criar empresas melhores para o futuro e, de quebra, ainda tornar a economia mais justa para todos.
Se dependessem das mulheres entrevistadas, Deborah Hargreaves analisou que uma “organização feminina” no futuro…
1. Daria muita importância aos cuidados com os filhos, pais e outros parentes 2. Ofereceria no próprio local de trabalho cuidados para os filhos, com creches ou subsídios 3. Estimularia o trabalho compartilhado e com horário e local flexíveis, encorajando, não apenas o home office, mas também a semana de trabalho de quatro dias 4. Seria inclusiva a pessoas de todas as classes sociais, identidades e deficiências 5. Não permitiria diferenças salariais por gênero e ofereceria mentoria para todos 6. Contrataria o mesmo número de homens e mulheres, com origens diversas, que seriam promovidos para todos os níveis da organização 7. Encorajaria uma maneira mais ética e sustentável de trabalhar 8. Estimularia recompensas baseadas nos valores da companhia, em vez de apenas no desempenho individual
“Minha visão é que todos os tipos de trabalho podem ser feitos em período parcial e de forma compartilhada”, afirma Hargreaves. “Você precisa pensar de maneira criativa – tirar algumas coisas [da descrição das funções]. Todos os trabalhos podem ser feitos de maneiras diferentes”.
E por que nós, mulheres, ainda nos sentimos tão culpadas por termos responsabilidades domésticas? Deborah explica! “O trabalho sempre foi um território dos homens, um lugar completamente separado para onde eles vão, quase para fugir da família. As mulheres chegaram ao local de trabalho, mas não houve um movimento para nos acomodar. É certo que somos reconhecidas, mas por que não avançar mais nisso?”
Ou seja, nada de se envergonhar de ter responsabilidades fora do trabalho, ok? A veterana acredita, inclusive, que os cuidados domésticos devem vir em primeiro lugar. “Partindo disso, você pode virar as coisas de ponta cabeça e olhar para elas de outra maneira. Uma vez que você tenha feito isso, essa nova visão se torna normal”.
*fonte: Valor Econômico (valor.globo.com)
(matéria originalmente postada em: fabianascaranzi.com.br, fevereiro de 2020)
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